Os desafios da liderança periférica

Na periferia, não somos ensinados a liderar. Somos ensinados a servir.

Desde cedo, aprendemos a obedecer, a escutar ordens, a executar. Crescemos valorizando a força do trabalho, a disciplina, a resistência. Mas quase nunca somos incentivados a ocupar espaços de decisão, a desenvolver visão estratégica ou a construir caminhos coletivos. Liderar, para muitos de nós, é algo que se aprende vivendo — na prática, no improviso, na urgência.

No meu caso, a liderança surgiu a partir de uma inquietação. De um desconforto com o que eu via ao meu redor e com o que me diziam ser possível. Durante muito tempo, essa liderança foi impulsionada por uma revolta — uma raiva silenciosa diante das barreiras impostas, das portas fechadas, das oportunidades negadas. Reconheço o potencial mobilizador desse sentimento e, em muitos momentos, ele ainda me move. Mas também aprendi que liderar vai além disso.

Liderar é traduzir indignação em ação estruturada. É transformar energia em direção. E esse aprendizado não veio dos livros, nem das salas de aula. Ele começou nos jogos de futebol na quebrada, quando era preciso montar os times e organizar as regras. Continuou nas festas da comunidade, nas iniciativas coletivas, na hora de unir pessoas em torno de um objetivo comum. E foi se aprimorando com o tempo, com as experiências, com os erros e acertos.

A liderança periférica exige escuta. Exige empatia. E, acima de tudo, exige visão. É preciso enxergar além do que está posto. Apontar caminhos possíveis onde muitos veem apenas limitações. Conduzir um time formado majoritariamente por pessoas da periferia é um exercício constante de alinhamento, confiança e construção coletiva. A escuta ativa torna-se fundamental para entender as reais necessidades, captar ideias e construir soluções com base na realidade e não na teoria.

Tenho aprendido — e sigo aprendendo — que liderar não é apenas sobre dar direções. É sobre formar pessoas, construir pontes, e fortalecer redes. Hoje, minha atuação como liderança vai além da gestão de equipe.

Lideramos empreendedores que precisam acreditar no próprio sonho. Lideramos empresas que buscam investir com mais consciência e impacto. Lideramos um movimento que aposta no potencial dos territórios populares como protagonistas da transformação social e econômica do país.

Ser uma liderança periférica é desafiante. Mas também é profundamente transformador. Porque, no fim, não se trata apenas de liderar pessoas — trata-se de liderar possibilidades.